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Produto Nacional ou Produto Importado?

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Mensagem  Admin Sex Jan 27, 2012 9:13 am

Em uma economia de livre comércio, tanto os produtos nacionais como os produtos importados convivem normalmente, pois apenas desta forma o mercado consumidor conseguirá ser plenamente atendido, já que apenas as indústrias locais não conseguem atender de forma eficiente toda a demanda do mercado interno, com uma gama tão diversificada de produtos a preços competitivos.

Sem os produtos importados, a tendência é que o consumidor vai comprar produtos mais caros, muitas vezes com menor nível de tecnologia ou até mesmo de menor qualidade.

Sem os produtos importados, grande parte da indústria nacional não vai investir em inovação, em desenvolvimento de novos produtos, não vai planejar corretamente seus custos e talvez não tenha interesse em exportar seus produtos, pois o mercado local será mais atrativo, está sendo protegido e também remunera melhor (possibilita praticar preços mais altos).

Quanto mais protegida a economia de um país, maior será a tendência das empresas não exportarem e serem menos eficientes no mercado internacional e quando acontece uma abertura rápida do mercado, as empresas normalmente levam um choque e sentem-se incapazes de competir tanto a nível local como a nível internacional.

Consigo perceber nitidamente o problema dentro das indústrias e empresas brasileiras quando o assunto é a exportação.

Poucas empresas estão realmente preparadas, capacitadas e estruturadas para exportar de forma eficiente, poucas delas possuem profissionais realmente qualificados na área de exportação e poucas delas possuem produtos adaptados às exigências do mercado internacional.

Muitas vezes não são as empresas brasileiras que são mais competitivas, mas sim (a natureza brasileira que é mais competitiva( do que (a natureza internacional), afinal de contas o Brasil tem grandes reservas naturais de minérios e grandes terras férteis para a plantação.

Muitas vezes as empresas reclamam do governo ou reclamam dos produtos importados, mas esquecem dos problemas que ocorrem internamente e que elas mesmas não percebem que existem.

Posso citar alguns exemplos que vivenciei recentemente e que demonstram a falta de capacitação profissional dentro de grandes empresas brasileiras que atuam na área de comércio exterior, como o caso de uma empresa onde o principal responsável pelo setor de exportação não conhece nada de comércio exterior e nem sabe o que são os incoterms, outro caso de uma empresa que tem custos altíssimos no processo de importação e nem sabe porque tem que pagar por estes custos, o caso de vários produtores brasileiros de produtos agrícolas que não sabem como responder e oferecer uma cotação em dólár para os produtos que um comprador Argentino deseja importar, como no caso de funcionários de empresas que participam de feiras de negócios no exterior e não levam lista de preços, não levam catálogo de produtos e não falam bem o idioma inglês. E estou falando que isto acontece normalmente dentro de GRANDES empresas, que faturam milhões de Reais por mês.

As empresas brasileiras não são menos competitivas apenas por causa da alta carga tributária, por causa da China e por causa de outros fatores externos, mas muitas vezes elas são menos competitivas por causa de fatores internos, como no exemplo do funcionário que não sabe como atender uma demanda que chega do exterior, por causa do funcionário que não responde um email do comprador, por causa do funcionário que não sabe planejar e gerenciar bem os processos de comércio exterior da empresa e por causa de outros fatores internos.

As últimas estatísticas de comércio exterior demonstram que os grandes importadores são as próprias indústrias, como no caso da indústria automobilística que é responsável por aproximadamente 91% das importações de veículos no Brasil e que foram as mesmas que reivindicaram ao governo maior proteção para a indústria nacional. A questão maior que deve ser analisada não é apenas a concorrência com os produtos importados, pois a própria indústria é uma grande importadora, se não for a principal importadora existente atualmente no Brasil.

As indústrias e os órgãos sindicais devem avaliar o contexto global onde estão inseridos, ou seja, além de avaliar os produtos importados também devem exigir do governo estadual e do governo federal uma menor carga tributária para produzir e comercializar no país, devem exigir menores encargos trabalhistas, menor custo com energia elétrica, maior investimento em infra-estrutura e logística (responsável por grande parte dos custos no Brasil) e não acusar simplesmente os produtos importados. Também devem fazer uma análise interna para identificar porque não estão exportando mais, porque são menos competitivas e o que pode ser feito para melhorar, adotando práticas de gestão empresarial mais modernas e eficientes, com profissionais mais capacitados e preparados.

Vale lembrar que na China, o governo chinês não tributa exageradamente os empresários, as indústrias e os consumidores locais, que o governo chinês investe bastante em logística e em infra-estrutura e que o país possui uma cultura milenar que sabe muito bem como negociar internacionalmente e que atende muito bem os clientes e consumidores ao redor do mundo. Os chineses negociam melhor e tratam melhor os consumidores e clientes que possuem.

Nenhum país do mundo consegue ser competitivo em tudo.

A Argentina recentemente criou uma política econômica altamente restritiva às importações que irá afetar inclusive as exportações brasileiras. Do ponto de vista da Argentina, nossa indústria nacional equivale a indústria chinesa para o Brasil, nós somos mais eficientes, mais competitivos e oferecemos preços menores do que os argentinos, mas será que isto é culpa da indústria brasileira? Nós somos os vilões da economia argentina?

Da mesma forma as indústrias chinesas são mais eficientes e mais competitivas que diversos setores da economia brasileira e mundial e só por isso eles podem ser considerados os vilões da nossa economia?

O Brasil é o vilão do setor de mineração e da agricultura porque consegue exportar minério de ferro, soja e outros produtos agrícolas e minerais de forma mais eficiente, mais barata e mais competitiva do que outros países do mundo? Nossos produtos devem ser barrados nos países de destino?

A escola de datilografia deveria ter sido preservada e protegida em detrimento da escola de informática e dos equipamentos de informática que temos hoje?

A questão é muito mais ampla do que isso e o objetivo deste artigo é mostrar que infelizmente a economia e o mundo capitalista da forma como foram estruturados e como funcionam hoje, sempre vão gerar estes tipos de desigualdades, pois estamos falando de culturas e economias heterogêneas, que possuem grandes distorções e grandes diferenças entre si, distorções que não conseguirão ser resolvidas sempre e muito menos curtos prazo.

Podemos retornar para o mesmo modelo econômico existente no Brasil antes de 1989, onde éramos praticamente um país exportador e não importávamos praticamente nada, éramos uma economia fechada. Se retornarmos a este modelo podemos continuar pagando mais caro por produtos menos eficientes, podemos abrir mão da tecnologia de ponta, abrir mão de grande parte do conforto que temos hoje e de uma inflação mais baixa ou podemos manter o modelo existente e coexistir de forma equilibrada com os produtos importados, tentando evitar os extremos e acabando com as acusações de ambos os lados.

Podemos vivenciar um colapso da economia mundial onde cada país fechará sua economia ou podemos entender que nós fazemos parte de uma economia mundial (um planeta composto de nações) que devem realizar o intercâmbio comercial entre si, porque apenas desta forma a economia mundial conseguirá sobreviver da forma como está estruturada hoje.

Da mesma forma que uma sociedade não conseguirá conviver e se sustentar se todos seus habitantes ficarem apenas poupando, da mesma forma a economia mundial não conseguirá sobreviver se todos países agirem desta forma.

Desejamos vender / exportar os produtos brasileiros mas também precisamos comprar / importar os produtos estrangeiros.

A carga tributária incidente na importação no Brasil é uma das maiores do mundo e gera grande fonte de renda ao governo (tributos recolhidos), além do importador também pagar tributos na comercialização das mercadorias dentro do mercado interno ( o importador também é uma empresa nacional que gera empregos), por outro lado a indústria nacional também paga grande carga tributária, além dos encargos trabalhistas que são muito altos e também deve continuar trabalhando e é grande fonte de empregos.

Sugiro que a indústria nacional avalie a situação como um todo e reivindique do governo uma redução real da carga tributária, redução real dos encargos trabalhistas e que também reavalie internamente a própria empresa, pois muitas vezes o problema pode não estar fora, mas dentro das próprias organizações.

Devemos considerar o que o governo brasileiro e o que as empresas brasileiras fizeram nos últimos anos (nas últimas décadas), para entendermos a situação atual e para avaliar o que pode ser feito daqui pra frente para melhorar.

Não sou contra e nem a favor de produtos nacionais ou de produtos importados, não sou contra e nem favor de brasileiros ou de estrangeiros, do meu ponto de vista somos todos iguais, somos todos seres humanos vivendo no mesmo planeta e devemos coexistir harmoniosamente e em paz, seja socialmente ou economicamente.

Henrique Mascarenhas

Prof. Comércio Exterior
GS Educacional

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